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  • Foto del escritorJorun Poettering y Gefferson Ramos Rodrigues

O BRILHO DOS BRONZES DO BENIM

Actualizado: 6 nov 2023

Devolução das esculturas de bronze do Benim pelo Museu Etnológico de Berlim reacende debate sobre repatriação de peças adquiridas por europeus no contexto do colonialismo.

Bronzes do Benim do século XVIII no Ethnologisches Museum. Restituídos à Nigéria em 2022 (Wolfgang Kumm/dpa/picture alliance/dpa)

Poucos acontecimentos culturais ganharam tanto espaço na imprensa alemã quanto a exposição aberta no dia 17 de setembro de 2022 pelo Fórum Humboldt que abriga o Museu Etnológico de Berlim. Ironicamente, o imenso museu fica no palácio onde viveram os Imperadores da Alemanha Guilherme I e II, governantes de um vasto império colonial na África, Ásia e Oceania, de onde foram adquiridas muitas das obras do museu por meios escusos durante os séculos XIX e XX. O palácio, destruído durante a segunda Guerra Mundial, foi reconstruído recentemente para abrigar a maior coleção etnológica do país. O domínio colonial da Alemanha, adquirido a partir de 1884 até 1919, foi, em extensão territorial, o terceiro maior da Europa – depois da Inglaterra e França.

Bronze do Benim, século XVI. Restituído à Nigéria em 2022 (Staatliche Museen zu Berlin, Ethnologisches Museum / Claudia Obrocki)
A decisão de repatriar os bronzes do Benim traz mais uma vez à tona o debate em torno da devolução de peças de arte adquiridas durante o violento período de exploração colonial.

Originalmente, as esculturas de bronze serviam para decorar o Palácio Imperial do Benim e foram elaboradas para narrar acontecimentos que envolviam as dinastias do Império, serviam ainda para a adoração do Obá, o rei, manifestando o seu poder político e espiritual. As esculturas eram elaboradas desde antes da invasão europeia no século XV. Depois passaram a registrar a presença dos portugueses, por exemplo. Com o tráfico de pessoas para escravização, os europeus intensificaram o fornecimento de bronze e os artesãos passaram a ter muito mais material para trabalhar.


Soldados do Reino Unido adquiriram a maior parte dos bronzes depois espalhados pelos museus da Europa e Estados Unidos como presa numa expedição extremamente violenta ao Benim em 1897. Havia uma alta demanda por estas peças devido ao seu grande refinamento artístico, que inspirou tanto eruditos académicos como artistas plásticos. Na Alemanha, além do Museu Etnológico de Berlim, os museus de Hamburgo, Dresden, Leipzig e Stuttgart também possuem diversas delas e estão sendo envolvidos em processos de restituição, tanto como vários museus do Reino Unido, França e em outros países.

Os pedidos para restituição das peças de bronze tiveram início nos anos 1970 pelo governo da Nigéria – que compreende hoje o antigo Império do Benim–, mas, só recentemente foi assinado um contrato com a Alemanha para restituiçãos.
Anônimo. Filho do chefe nigeriano Eholla com peças de arte do país por volta de 1900-1902 (Ethnologisches Museum, VIII A 22429)

Apesar da falta de interesse de muitos outros museus em devolver as obras adquiridas num contexto colonial, não se pode deixar de reconhecer o esforço de algumas instituições em mitigar esses danos e, mais que isso, chamar a atenção para o debate. Como resultado desta discussão, os curadores da exposição tiveram a preocupação de deixar evidente o processo de aquisição de algumas das obras, indicando se haviam sido incorporadas ao Museu de maneira lícita ou não.


Se no passado essas obras tiveram a função de narrar os principais acontecimentos políticos dos governantes do Benim, com a reivindicação de sua devolução, hoje elas não deixam de narrar uma história de uma resistência cultural ao passado violento. A discussão permanece aberta e oferece a oportunidade para que outros povos que sentiram o duro fardo do colonialismo em suas costas possam seguir o mesmo caminho.



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